Relatório Anual 

 2020

Carta 

  da CEO

Algo extraordinário aconteceu em 2020. 

Para enfrentar uma crescente e terrível pandemia, muitas líderanças da sociedade civil, de empresas e governos reconheceram que precisávamos mais do que uma resposta rápida. Precisávamos de um plano de recuperação que não nos levasse de volta ao ponto onde estávamos, mas que nos impulsionasse rumo a um futuro mais justo.


“Reconstruir melhor” tornou-se o mantra, a medida que lideranças se esforçavam para elaborar planos de recuperação. O otimismo transbordava. Novos pensadores econômicos compartilhavam visões convincentes do que estava por vir. Cada vez mais empresas e investidores subiam a barra no referente a suas metas de sustentabilidade. E questões críticas, como inclusão social e justiça racial, entraram na agenda de forma contundente.


A enorme demonstração de solidariedade – e o crescente entendimento de que o sistema em que atuamos está quebrado – é um resultado inesperado e bem-vindo em um dos anos mais trágicos e desafiadores na história recente.


E precisamos mais disso. Porque por trás da crise da Covid estão duas crises eminentes que são muito maiores, mais destrutivas e ainda mais difíceis de resolver: o colapso climático e a crescente desigualdade que está dividindo as nossas sociedades.

Quando criamos a Laudes Foundation no início de 2020, nós o fizemos com o intuito de nos juntarmos ao movimento de outros financiadores, alianças e coalizões que têm trabalhado incansavelmente para enfrentar estas duas crises. E apoiados no conhecimento do conglomerado familiar Brenninkmeijer, podemos contribuir com uma abordagem construída a partir da experiência de seis gerações de empreendedorismo e inovação empresarial.  
 
Especificamente, escolhemos trabalhar com e através das empresas e da indústria, selecionando aqueles setores que acreditamos terem um impacto maior sobre o problema que queremos resolver: finanças e mercados de capital, a construção civil e a moda. As empresas e a indústria (alimentadas pelo setor financeiro) têm o potencial de serem uma força poderosa para o bem, mas ainda não chegamos lá. As mentalidades, as regras e, por fim, a dinâmica de poder do nosso sistema global precisam mudar para permitir isso. 
 
Sendo uma Fundação nova, temos a extraordinária oportunidade de aprender com todos aqueles que vieram antes. Começamos escutando mais de 300 pessoas, incluindo líderes de movimentos trabalhistas, executivos de empresas, investidores, formuladores de políticas públicas e outras lideranças de fundações. Queríamos entender os vetores que geram as disfunções em nosso sistema econômico global. Essas discussões com empreendedoes sociais, lideranças transformadoras e especialistas globais nos ajudaram a desenvolver nossa estratégia de cinco anos que embasou a nossa Teoria da mudança inicial. Juntas, elas contam como as escolhas estratégicas que fazemos podem criar as mudanças de curto e longo prazo das quais precisamos para acelerar nossa jornada em direção a uma economia positiva e inclusiva em relação ao clima. 

Também reconhecemos que estamos operando em um contexto complexo e em rápida transformação e, por isso, projetamos nossa estratégia para sermos capazes de nos ajustar e adaptar,  o que é particularmente importante quando falhamos já que nem sempre teremos sucesso. Saber o quanto antes o que não funciona nos ajudará a concentrar nossos esforços onde podemos gerar mais impacto.  

Ter bases para medir nosso progresso é essencial para o aprendizado. E considerando que somos um dos muitos atores que trabalham para criar uma mudança maior e sistêmica, pareceu insensato confiar apenas em indicadores-chave de desempenho de curto prazo para realizar esse acompanhamento. Embora seja útil saber quantos agricultores adotaram práticas de algodão orgânico no ano X, como é que isso nos ajuda a entender até que ponto a indústria da moda em geral está adotando práticas sustentáveis? Ao mesmo tempo, tivemos que sair da armadilha da “atribuição” (por exemplo, o resultado X aconteceu apenas por causa de nosso financiamento) e passar para o espaço da “contribuição”. Para isso, desenvolvemos uma metodologia baseada em rubricas avaliativas para melhor compreender como uma mudança sistêmica acontece e os caminhos necessários para se chegar lá.

Percebemos que nem todos compartilhamos o mesmo entendimento do sistema que queremos implementar. Em consulta com nossos parceiros e outras partes interessadas, criamos e publicamos um Mapa do Sistema Econômico interativo para entender as complexidades do sistema e promover uma compreensão compartilhada do problema. Este mapa vivo, que apresenta mais de 130 organizações, incluindo muitos de nossos parceiros e utilizado por várias instituições acadêmicas, nos ajuda a entender tanto as oportunidades e lacunas do sistema econômico global quanto onde podemos e devemos agir.


A filantropia não deve e não pode agir em todos os lugares, particularmente quando se trata de mitigar a mudança climática. Em 2019, o nível anual de financiamento climático das fundações foi de apenas 1,6 bilhão de euros, um nível mínimo considerando o atual investimento das empresas e do governo. Em vez disso, o capital filantrópico deveria ser catalizador. Incentivando a inovação. Endereçando falhas do mercado. Diminuindo o risco de novos modelos. E, na Laudes Foundation, estamos tentando fazer isso de seis maneiras.

na Laudes Foundation, estamos fazendo isso de seis maneiras:

ACELERANDO 

ADVOCACY

Em primeiro lugar, acelerando estratégias de advocacy para mudar políticas. Esta é uma ferramenta básica na caixa de práticas filantrópicas, mas ainda assim, é criticamente importante nestes tempos extraordinários em que os governos globalmente estão projetando maneiras de reconstruir de uma forma melhor e o “Green Deal” se torna uma peça central do compromisso da Europa para alcançar a neutralidade climática até 2050. Em nosso primeiro ano de operação vejo, com orgulho, como nossos parceiros conseguiram fazer avançar o movimento de devida diligência dos Direitos Humanos Obrigatórios na Europa e impulsionar o diálogo sobre a transição justa (através de parceiros como a New Economics Foundation, que está abordando o tema controverso da renda básica universal, e Frank Bold, que está trabalhando para trazer as vozes dos trabalhadores para estas negociações políticas).

FORTALECENDO A RESPONSA­BILIZAÇÃO

Em segundo, fortalecendo a responsabilização dos negócios em todos os nossos setores alvo. Fazemos isso de muitas maneiras, inclusive usando transparência para aumentar a conscientização sobre práticas inadequadas (como nosso parceiro Influence Map está fazendo com o lobby anticlimático) ou simplesmente fornecendo mais dados relevantes (como nosso parceiro Open Apparel Registry está fazendo ao mapear as unidades de produção na indústria da moda).

ampliando a pesquisa e a inovação

Em terceiro lugar, ampliando a pesquisa e inovação para permitir a adoção de novas soluções que podem tanto inspirar quanto desafiar os negócios. Nossa parceria com o The Biomimicry Institute capacita uma nova geração de inovadores a criar soluções inspiradas na natureza para um planeta saudável. Nos últimos quatro anos, também temos feito isso através da Fashion for Good, mais de 115 inovadores, atraímos 20 parceiros corporativos, executamos mais de 80 pilotos e desbloqueamos mais de 250 milhões de euros em financiamento para essas inovações.

CULTIVANDO ALIANÇAS

Em quarto lugar, fomentando alianças (parceiros, coalizões, redes e movimentos) que podem acelerar a ação coletiva. Por exemplo, a Laudes Foundation é uma das primeiras apoiadoras de uma nova coalizão de financiadores, a Funders Organized for Rights in the Global Economy (ou FORGE), incluindo trabalhadores, agricultores e comunidades vulneráveis. Da mesma forma, estamos financiando a Coalizão para a Eficiência Energética de Edifícios do Green Finance Institute (CEEB), que está acelerando o ritmo da inovação financeira em direção a soluções zero líquido para a construção civil.

AMPLIFICANDO NARRATIVAS

Em quinto lugar, ampliando narrativas e, em particular, trabalhando para mudar a narrativa dominante em torno do sistema econômico, como temos feito por meio de nossa parceria com a Bauhaus der Erde e sua ambição de mudar as percepções relacionadas aos edifícios em que vivemos e trabalhamos, bem como com a The Sustainable Trade Initiative (IDH), que está criando casos de sucesso de negócios focados na restauração dos ecossistemas com modelos que sejam beneficiosos tanto para os agricultores quanto para a natureza.

REIMAGINANDO O SISTEMA

Finalmente, reimaginando nosso próprio sistema econômico global, explorando (com nossos parceiros) novos modelos, soluções, narrativas e políticas, como estamos fazendo através do novo pensamento econômico oriundo do Instituto de Inovação e Propósito Público da UCL e do Doughnut Economics Action Lab (DEAL), sob direção de Mariana Mazzucato e Kate Raworth.

Embora estejamos no início, já temos muito do que nos orgulhar. Em nosso primeiro ano, cocriamos mais de 160 parcerias, destinando 66,9 milhões de euros em doações (sendo 29% focados em apoio institucional). Além disso, dada a enormidade dos desafios que estamos enfrentando, nos unimos a cinco alianças globais, comprometendo-nos a colaborar e coordenar com outros doadores para amplificar os esforços de todos.


Também utilizamos nosso financiamento para destravar financiamentos adicionais de terceiros. Em 2020, ao menos 36 milhões de euros vindos de outros doadores e financiadores fluíram para nossos programas e plataformas em formato de cofinanciamento. Além disso, aumentamos nosso apoio não financeiro aos parceiros oferecendo habilidades, promovendo a experimentação, conectando aliados improváveis e construindo o campo; todas peças chave para a construção da mudança do sistema.

Esse apoio não financeiro tem sido extremamente importante em tempos de Covid, particularmente para muitos de nossos parceiros em países como Índia, Bangladesh e Brasil. Ao assinar o Pacto de Compromisso de Filantropia do Conselho da Fundação, nós, juntamente com 803 outros financiadores, nos comprometemos a ser mais flexíveis com nossos parceiros, removendo restrições onde pudermos e oferecendo mais apoio institucional durante este período sem precedentes. Também implantamos um Fundo de resposta emergencial, através do qual distribuímos 3,3 milhões de euros a 56 parceiros – dos quais 40 são organizações de base –, que prestaram assistência a mais de 500.000 pessoas e mobilizaram 13,2 milhões de euros adicionais de outros financiadores e governos.

Mas é preciso fazer mais. A pandemia segue e, ao mesmo tempo que o mundo tenta responder a ela, crises alarmantes de ruptura climática e o aprofundamento da desigualdade exigem uma resposta ainda mais coordenada e comprometida.

Isso porque esses dois desafios sistêmicos estão intimamente ligados. Os avanços de um não podem vir às custas do outro. Para seguir adiante nosso trabalho abordará esta interseção entre clima e desigualdade, como um tema impacta o outro e como nós, coletivamente, com nossos parceiros, podemos fazer frente a ambos.


Estamos no início de nossa jornada, o caminho é longo e temos muito a aprender. Mas somos gratos aos nossos parceiros que, diante da pandemia, demonstraram um compromisso inabalável com suas próprias missões, empatia profunda com aqueles mais atingidos por essa pandemia e a determinação de continuar trabalhando, conosco e com outros, para enfrentar os imensos desafios que estão por vir.


Obrigada.

Leslie Johnston
Chief Executive Officer 

Laudes Foundation

Across our organisation, we signed more than

120 partnerships

in 2020, and recognising the critical importance of multi-donor coalitions at times of crisis, joined five global alliances. 

We committed a total of 

EUR 63 million

in our own grants to partners, with 25% of this amount providing core support. 

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Construindo 

 nossa

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